
Moradores da Região do Barreiro e usuários dos Centros de Saúde dos Bairros das Indústrias e Milionários reclamaram da situação precária de ambas as unidades, durante audiência pública realizada na tarde desta quarta-feira (16/7) pela Comissão de Saúde e Saneamento. Eles pedem a construção de novos postos na região, uma vez que os espaços reduzidos têm comprometido a qualidade do atendimento. Levantamento realizado pelo gabinete de Helinho da Farmácia (PSD), solicitante do encontro, apontou problemas como equipes de saúde incompletas, falta de ventilação e baixa luminosidade nas unidades. O parlamentar lamentou a falta de representantes do Executivo municipal no debate e disse que irá agendar uma reunião com o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, com a presença do secretário municipal de Saúde, Danilo Borges Matias.
Visitas e relatório técnico
Helinho da Farmácia (PSD) destacou que a construção de centros de saúde é uma “luta antiga” da comunidade do Barreiro, motivo pelo qual seu gabinete realizou um diagnóstico da situação atual das unidades após visitas técnicas à região. Weverton Santos, morador do Bairro Cardoso e assessor parlamentar de Helinho, apresentou os resultados obtidos. O levantamento apontou diversos problemas, tais como equipes de saúde incompletas, poucas e pequenas salas de atendimento, além de baixa ventilação e luminosidade nos espaços. Segundo informou Weverton Santos, os relatórios completos das vistorias serão encaminhados pelo gabinete à Prefeitura de Belo Horizonte.
De acordo com a análise, no entanto, o principal problema encontrado na Região do Barreiro, e que tem afetado o atendimento nos centros de saúde, é a questão do adensamento populacional. A estimativa de acréscimo de população prevista para a região nos próximos dois anos é de quatro a cinco mil pessoas. “Se a Prefeitura não começar a planejar a cidade para o futuro, a gente vai ter um déficit de serviço muito grande”, afirmou Weverton Santos. Esse seria o caso, por exemplo, do Centro de Saúde Bonsucesso, que atende 15 mil usuários do bairro de mesmo nome, mas que também recebe usuários do Bairro Jardim Liberdade, já que as equipes de saúde do local são incompletas.
Solução provisória
Também da Região do Barreiro, o presidente da Câmara Municipal, Professor Juliano Lopes (Pode), contou que uma emenda impositiva de seu gabinete vai garantir a ampliação do centro de saúde do Bairro das Indústrias. “Vai ser o ideal? Vai resolver o problema do posto de saúde? Não, mas foi um pedido que chegou até o nosso gabinete que vai amenizar um pouco [para] as pessoas que usam o centro de saúde, e amenizar também as condições de trabalho daqueles funcionários, que hoje trabalham em péssimas condições”, afirmou. O parlamentar, no entanto, destacou que a solução ideal seria um novo centro de saúde, em espaço disponível próximo à unidade atual. “Está fácil para a Prefeitura construir”, garantiu.
Dr. Bruno Pedralva (PT) reforçou a necessidade de pensar na questão do Barreiro “como um todo”. “Não dá pra gente conversar só sobre um posto de saúde”, disse ele, fazendo menção ao crescimento da região. No entanto, segundo Pedralva, a construção de novos centros de saúde, atualmente acordado no modelo de parceria público-privada (PPP), está limitada a um número aquém da necessidade eos moradores do local. De acordo com o parlamentar, uma alternativa seria a ampliação do número de centros de saúde previstos no contrato atual. “Se isso não for possível [do ponto de vista jurídico], a Prefeitura teria que fazer uma outra licitação, um outro escopo, e isso pode demorar, sinceramente, anos”, disse o vereador, lembrando que as conversas sobre o atual contrato se iniciaram em 2011, mas a primeira unidade foi entregue somente em 2019.
Espaços reduzidos
Para a presidente do Conselho Municipal de Saúde e moradora do Barreiro, Ilda Alexandrino, dois desses novos centros de saúde que a Prefeitura planeja construir devem ser para os Bairros das Indústrias e Milionários. “Não dá mais para a gente continuar naquele espaço [do Bairro Milionários]. É preciso repensá-lo pra gente trazer um atendimento para a população com incremento de equipe, porque quando a população aumenta no território, é preciso aumentar as equipes de saúde da família”, destacou. No entanto, o aumento das equipes de saúde demandaria, segundo Hilda, “uma estrutura física que a comporte”, o que não é o caso do atual posto do Bairro Milionários. A presidente do Conselho citou problemas como a falta de espaço para consultórios e revezamento de salas entre profissionais da unidade.
Moradora do Milionários, Joana d’Arc Silveira também reclamou do espaço reduzido na unidade, e que a última reforma feita no local não teria sanado os problemas. “Puxadinho nem pensar; construção é o que precisamos”, afirmou, contando que a unidade tem absorvido parte da demanda de usuários dos Bairros das Indústrias e Bonsucesso.
“Nosso centro de saúde foi construído na década de 80 e, de lá pra cá, nós tivemos um crescimento significativo do bairro”, disse Dirlene da Silva, presidente da Comissão Local de Saúde do Bairro Milionários. Esse crescimento, segundo ela, ampliou as demandas da população, em diversos setores, não somente na saúde. “Infelizmente, o poder público foi nos deixando abandonados”, afirmou. Para Dirlene, “é impossível” pensar em uma nova reforma para o posto, e o bairro teria áreas adequadas para a construção de uma nova unidade.
Espaço precário e improvisado
Médica do centro de saúde do Bairro das Indústrias, Elizabeth Ferreira disse que a realidade da unidade é “muito precária”. Ela citou o uso de divisórias improvisadas de MDF para separar salas de atendimento, mofo nas paredes da unidade e transtornos causados durante o período chuvoso. “Se chove, a gente tem que torcer para não ter goteiras, para não entrar água dentro das nossas salas”, contou Elizabeth, que disse ter presenciado funcionários chorando sem ter espaço para atender. “A gente precisa de dignidade para trabalhar”, destacou ela.
“A gente não quer mais pintura, a gente não quer mais puxadinho, a gente não quer mais um toldo ou um telhado novo. A gente quer essa obra, a construção”, pediu a médica.
A agente comunitária de saúde (ACS) e moradora do Bairro das Indústrias, Roseane de Lima, pediu por “dignidade” para os usuários da unidade e também para os trabalhadores, que, segundo ela, já estão “adoecidos”. Ela mencionou que a recepção do centro de saúde não comporta todos os usuários, que muitas vezes chegam a esperar na rua. Moradora do Bairro Novo das Indústrias e mãe de cinco crianças, Priscila Ramalho também reclamou do espaço, destacando que a falta de salas compromete a privacidade das mulheres que precisam realizar o exame preventivo de colo do útero, conhecido como “Papanicolau”.
“Saúde, para todo mundo, é uma prioridade. A gente precisa de um olhar mais carinhoso; ainda mais a gente que mora em comunidade, é humilde, não tem a condição de pagar um plano de saúde”, pediu Priscila.
O ex-vereador Pedrão do Depósito lembrou que a ampliação do centro de saúde do Bairro das Indústrias foi conquistada pela comunidade no Orçamento Participativo de 2009, mas até hoje a obra não saiu do papel. “O Bairro das Indústrias não merece esperar mais”, disse. Ele ainda pediu a Helinho da Farmácia que enviasse um pedido de informação à Prefeitura de Belo Horizonte pedindo esclarecimentos.
Ausência do Executivo municipal
Adriana Silva, gerente da Diretoria Regional de Assistência Social Barreiro, disse ter ciência das dificuldades enfrentadas pelos moradores dos Bairros das Indústrias e Milionários, e que a Assistência Social tem estado junto da comunidade e é “parceira” de suas demandas. “Sabemos de toda essa luta”, disse.
Helinho da Farmácia lamentou a ausência de representantes do Executivo que pudessem dar respostas efetivas à população presente. “Com todo respeito aos nossos secretários, mas eu gostaria muito que eles estivessem presentes aqui”, disse. O parlamentar afirmou que irá solicitar uma reunião com o prefeito de BH, Álvaro Damião, com a presença do secretário municipal de Saúde, Danilo Borges Matias. Ele sugeriu que dois grupos de quatro representantes de cada bairro o acompanhassem no encontro para debater os pleitos. No Bairro Milionários, a demanda é a construção de um novo centro de saúde; e, no Bairro das Indústrias, o início das obras de ampliação da unidade, conquistada por meio do Orçamento Participativo.
“O próximo passo é ir no Álvaro Damião. Ele falou que vai fazer todas as obras do Orçamento Participativo que ficaram pendentes, então nós vamos cobrar”, afirmou Helinho da Farmácia.
Em relação aos centros de saúde dos Bairros Bonsucesso, Miramar, Vila Cemig e Vila Pinho, o vereador disse que pedirá “um estudo” para avaliar a construção de novos postos nesses locais.
“É importante que a gente converse com quem decide”, reforçou Dr. Bruno Pedralva. “A gente não sai daqui com a resposta ‘vai construir’, mas a gente sai daqui com a esperança de que vamos lutar até conquistar”, afirmou o parlamentar. Presidente da Comissão de Saúde e Saneamento, José Ferreira também reforçou o apoio do colegiado nas demandas das comunidades.
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